Pages

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Escrita sangrenta: Rubem Fonseca


Muitos são os que dizem que a verdade dói. Talvez Rubem Fonseca tenha pensado nisso para compor o seu universo áspero em sua escrita. A violência é exposta com crueza, seus personagens são prostitutas, advogados, políticos, matadores, todos movidos pelos instintos, pela cobiça e hedonismo exacerbados. O conto que indico traz toda essa aspereza que lhe é característica, de onde se consegue extrair estranha beleza. "O livro de panegíricos" faz parte de Romance negro e outras histórias, traz um misterioso enfermeiro como protagonista, cuidando de um velho que tinha sido muito poderoso e maldoso no passado, agora entrevado numa cama esperando o fim de seus dias. Uma enfermeira se reveza com o rapaz, ambos ouvem as história do senhor. O conto põe os choque entre as três visões no seu clímax, o final belo, repleto de desolação. Recomendo ao leitor um dos grandes nomes de nossa literatura. Enfim, boa leitura!

Wander Shirukaya
escreve contos e pode ser encontrado aqui:
http://blogdoshirukaya.blogspot.com/
Twitter: @shirukaya

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O bruxo do conto

Abro espaço para falar de um dos meus contistas preferidos, Machado de Assis, e, dentro da sua obra, o conto da minha preferência é: Missa do Galo.
O que mais chama atenção nesta narrativa do Bruxo do Cosme Velho é o modo como o autor cria uma atmosfera de erotismo ao longo de boa parte da história, sem recorrer a recursos pornográficos, posto que ele era um mestre da sugestão. Isto faz com que a história tenha um interesse adicional para o leitor contemporâneo, imerso numa sociedade que tende a confundir erotismo com pornografia. Na verdade, este dois conceitos estão distantes; a pornografia vai para o lado da vulgaridade, da exposição total do corpo, do material; enquanto o erotismo tem a ver com fantasia, com sugestão, com o sublime. Ou seja, a pornografia é apelativa e explícita; o erotismo, implícito e cheio de nuances. Machado de Assis, gênio que era, sabia bem esta distinção e opta pelo segundo, o que enriquece seu conto. Brilhante também é a forma que ele descreve as personagens no conto, notadamente sua descrição de D. Conceição, como vemos neste trecho irônico:

Boa Conceição! Chamavam-lhe "a santa", e fazia jus ao título, tão facilmente suportava os esquecimentos do marido. Em verdade, era um temperamento moderado, sem extremos, nem grandes lágrimas, nem grandes risos. No capítulo de que trato, dava para maometana; aceitaria um harém, com as aparências salvas. Deus me perdoe, se a julgo mal. Tudo nela era atenuado e passivo [...]. Não sabia odiar; pode ser até que não soubesse amar. 

O conto tem mais recursos e se abre para mais análises, sendo um dos melhores da obra de Machado de Assis. 

Ildefonso Alves

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Quiroga: conto e curta

Apresentamos uma adaptação para curta-metragem do conto El hijo, de Horacio Quiroga. O texto retrata o sofrimento de um pai diante da fatalidade que acomete seu filho que saíra para caçar. Caraterísticas comuns da narrativa de Quiroga podem também ser vistos no curta, a morte, os mistérios da selva, etc. O filme está em espanhol, mas não deve trazer muitos problemas ao entendimento, as imagens falam por si.






domingo, 5 de setembro de 2010

Quiroga em terra firme



Meu segundo texto para este blog pretende falar sobre o primeiro conto de Quiroga que me marcou: À Deriva. Nesta narrativa estão presentes dois temas recorrentes na sua obra: a morte e a selva, que vêm entrelaçados. A história tem sua unidade de ação centrada no relato da morte angustiante do protagonista, que foi picado por uma cobra no meio da selva. Esta ação se qualifica como o momento privilegiado do conto, o recorte da realidade que constitui a significação da história. O espaço do conto – a selva – é muito significativo para a obra. Ela parece moldar a morte à sua maneira, dando um caráter cruel e quase selvagem ao passamento do protagonista. Em certa passagem do conto, a mudança na descrição do espaço reflete, metaforicamente, a própria mudança de condição do personagem - a passagem da vida para a morte. Vemos isso neste trecho:

O Paraná corre ali no fundo de uma imensa garganta, cujas paredes, altas de cem metros, estreitam funebremente o rio. Das margens, emolduradas por negros blocos de basalto, sobe o bosque, também negro. Adiante, nos dois lados e também atrás, sempre a eterna muralha lúgubre, em cujo fundo o rio apinhado precipita-se em incessantes borbotões de água lamacenta. A paisagem é agressiva e nela reina um silêncio de morte. Ao entardecer, porém, sua beleza sombria e calma ganha uma majestade única. 

O modo seco e direto como o conto é encerrado se coaduna com a característica desse gênero literário, posto que mantém a unidade de ação e de tempo. Isso significa que ele não se alonga nem faz rodeios pouco objetivos. O passado e o presente em relação ao momento da ação principal são propositadamente esquecidos, ou seja, não conhecemos os fatos da vida do protagonista até aquele recorte temporal que relata sua morte. O final do conto é brilhante, e mostra toda a genialidade do autor.
Portanto, fica recomendada a leitura do conto À Deriva para todos os apreciadores da boa literatura. Foi-me um início promissor na obra de Quiroga.

Ildefonso Alves

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O olho do imigrante: Jhumpa Lahiri


A mestiça Indiana/Americana Jhumpa Lahiri é um nome pouco conhecido por aqui. Isso náo quer dizer que ela seja má - pelo contrário, a contista tem um grande domínio da narrativa e sempre traz histórias belíssimas, carregadas de melancolia.
A escritora tornou-se famosa por suas histórias sempre buscando mostrar a situação do imigrante, em especial dos indianos que vivem na grande mistura que compõe os Estados Unidos. O resultado são contos que mostram o sofrer de quem vive distante de sua terra, buscando uma vida imelhor, mpossível anteriormente. Muitos conseguem, mas se vêem obrigados a abandonar seus costumes e tradições para se adaptar ao caos capitalista do ocidente. Como sugestão destacamos seu belo livro Intérprete de Males (2000). Tenha certeza o leitor de estar diante de uma mulher cheia de técnica e sensibilidade. Sem dúvida, uma grande leitura. Esperamos que gostem.

Wander Shirukaya,
escreve contos e pode ser encontrado aqui:
http://blogdoshirukaya.blogspot.com/
Twitter: @shirukaya
 
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...