Pages

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O bruxo do conto

Abro espaço para falar de um dos meus contistas preferidos, Machado de Assis, e, dentro da sua obra, o conto da minha preferência é: Missa do Galo.
O que mais chama atenção nesta narrativa do Bruxo do Cosme Velho é o modo como o autor cria uma atmosfera de erotismo ao longo de boa parte da história, sem recorrer a recursos pornográficos, posto que ele era um mestre da sugestão. Isto faz com que a história tenha um interesse adicional para o leitor contemporâneo, imerso numa sociedade que tende a confundir erotismo com pornografia. Na verdade, este dois conceitos estão distantes; a pornografia vai para o lado da vulgaridade, da exposição total do corpo, do material; enquanto o erotismo tem a ver com fantasia, com sugestão, com o sublime. Ou seja, a pornografia é apelativa e explícita; o erotismo, implícito e cheio de nuances. Machado de Assis, gênio que era, sabia bem esta distinção e opta pelo segundo, o que enriquece seu conto. Brilhante também é a forma que ele descreve as personagens no conto, notadamente sua descrição de D. Conceição, como vemos neste trecho irônico:

Boa Conceição! Chamavam-lhe "a santa", e fazia jus ao título, tão facilmente suportava os esquecimentos do marido. Em verdade, era um temperamento moderado, sem extremos, nem grandes lágrimas, nem grandes risos. No capítulo de que trato, dava para maometana; aceitaria um harém, com as aparências salvas. Deus me perdoe, se a julgo mal. Tudo nela era atenuado e passivo [...]. Não sabia odiar; pode ser até que não soubesse amar. 

O conto tem mais recursos e se abre para mais análises, sendo um dos melhores da obra de Machado de Assis. 

Ildefonso Alves
Blog Widget by LinkWithin

Nenhum comentário:

Postar um comentário

 
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...